sexta-feira, 2 de julho de 2010

Aquele olhar...

Mais uma vez esperando o ônibus, que raiva! Sempre demora, sempre aquele aperto, sempre aquele cheiro nauseabundo de suor e sempre aquele maldito engarrafamento como que enviado pelos deuses para estender o sofrimento ao máximo numa situação de estresse absoluto do trabalho de cada dia. Levanto a vista, respiro fundo tentando vislumbrar no meio do mar de faróis aquele letreiro mágico do transporte que me levará pra casa quando noto algo de diferente na cinzenta paisagem urbana. Automaticamente minha atenção se volta para o ponto de desequilíbrio da cena.

Um tanto quanto apressada ela vem passando altiva, expressão compenetrada, passo firme, ignorando a minha vida triste e a de todos os outros ao seu redor, que assim como eu, ficam surpresos com o novo. Olhando melhor, ela não andava, parecia flutuar, suspensa pelos olhares e cujos cabelos, belos cabelos cacheados, dourados como ouro, esvoaçantes, eram insuflados pela respiração de uma platéia absolutamente atônita e admirada.

Eis que minha respiração pára, por um momento, um infinitésimo que para mim durou uma eternidade ela olhou. Aqueles olhos faiscantes, vivos, de um azul profundo como o mar, pararam sobre os meus. Um raio percorreu meu corpo, uma descarga de adrenalina como nunca tinha sentido, descompasso no coração, euforia! Tudo numa fração de segundo (ou numa vida inteira?). Um sorriso se forma no seu rosto, aquele de cantinho de boca, lascivo, de quem sabe o poder que tem e ela segue seu caminho, estonteante como apareceu, indiscritivelmente bela, ela se foi.

Como uma droga, a excitação dá lugar a um vazio profundo, uma sensação de perda indescritível, trazendo de volta o mundo cinzento, agora ainda mais cinzento, porque toda a cor se perdeu depois que o azul daqueles olhos cruzou com os meus...

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